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Para melhor compreendermos o trabalho realizado neste projeto de Doutoramento, descrevem-se pontos-chave do processo de estudo.

Trata-se de uma intervenção no espaço urbano, pelo encorajamento à participação da comunidade, fundindo as identidades individuais e coletivas na criação de lugar(es), através de um percurso performativo em cenografias urbanas.

 

Começou por efetuar-se um diagnóstico sobre aquilo que já se fazia ou não, um pouco por todo mundo, a nível artístico no âmbito da temática em causa. Efetuou-se uma pesquisa sobre a atividade artística, em contexto urbano ou a partir das cidades. Seguiu-se a escolha dos grupos e respetivas faixas etárias dos participantes e de que forma se chegaria aos mesmos. Por experiências próprias anteriores, as parcerias revestiam-se de grande importância, na medida em que o trabalho teria de ser validado e para isso era necessária a participação de elementos experientes e devidamente formados nas áreas de intervenção. O resultado dessa preocupação levou a parcerias com algumas entidades, nomeadamente a Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã, organizadora do Festival Y, no qual se insere a atividade que serve de base a esta investigação, o Festival Wool e a Câmara Municipal da Covilhã.

Entendem-se as obras artísticas, não apenas como obras materiais, delimitáveis no tempo e no espaço, mas sobretudo como experiências artísticas. Ao assumir o espaço cénico enquanto potencial motor de regeneração urbana, pretende demonstrar-se como a transformação do espaço público pode permitir ao habitante a constru­ção de uma identidade coletiva.

     Partindo do princípio que memória não é história e é coberta de subjetividade, sendo um exercício do presente para o passado, ouvir a voz de quem viveu certa circunstância, certa condição parece ser o ponto de partida. É nesse sentido que se realizou um registo das memórias dos avós da autora, em locais específicos da cidade da Covilhã.

 

     Pretendeu-se depois o recurso a metodologias participativas, por forma a envolver a restante comunidade na criação. Tendo como epígrafe “Cartografias - do interior para o exterior e vice-versa”, iniciou-se em junho de 2018 no Centro Ativ’Idades da Covilhã, espaço municipal de acesso público vocacionado para atividades sócio-culturais, o Laboratório de Artes Performativas para Seniores. Decorreu no âmbito do Y PÚBLICOS, um eixo de programação do Festival Y#14, apoiado pela DGArtes, dirigido à formação e envolvimento de públicos. Este laboratório baseia-se numa metodologia cartográfica de pesquisa-ação participativa, em que o objetivo principal é compreender se a tradução de narrativas pessoais e sociais através das artes performativas contribui para o mapeamento de identidades territoriais. É orientado pela investigadora e artista, autora deste projeto e pela atriz Sílvia Ferreira numa tentativa de mapear as memórias dos participantes.

 

     Como atividade complementar do Laboratório e também integrado no Festival Y, os seniores participantes realizaram 4 oficinas “Interseções” nas quais aprofundaram a pesquisa performativa em curso sobre identidade territorial, com grupos de diferentes faixas etárias: Escola EB1 A Lã e a Neve (com crianças do 1º Ciclo e Pré-Escolar), Escola EB 23 do Teixoso (com crianças do 2ªciclo) e Centro Ativi’Idades com a comunidade em geral. Os seniores tiveram aqui um papel ativo, partilhando materiais e tópicos levantados no laboratório. Procurou-se uma exploração prática conjunta e, também receber novos contributos para a pesquisa artística em curso.

Destas metodologias participativas, resultou um primeiro exercício processual, apresentado no dia 8 de dezembro, no auditório do Teatro das Beiras, intitulado CARTOGRAFIAS I. Esta primeira apresentação foi a partilha do trabalho já desenvolvido no Laboratório. Guiados pelas linguagens do teatro, da narração de histórias e das artes visuais, nesta primeira fase da pesquisa partiu-se do resgate de memórias de infância e juventude dos 12 seniores participantes na tentativa de chegar o mais atrás possível nas suas vivências relativas à cidade, ao concelho e à região.

 

Nesta apresentação processual, foram partilhadas apenas algumas das narrativas de vida e materiais cénicos e dramatúrgicos que integram a apresentação final.

 

Para tanto, foi utilizada como referencial metodológico a pesquisa qualitativa e participativa, de caráter pesquisa-intervenção, com ênfase no método cartográfico. Foram utilizadas algumas ferramentas e instrumentos facilitadores da construção de um texto/memória/ação, como registos destes acontecimentos. Relatos dos caminhos trilhados pelo grupo, foram utilizados como narrativas compostas pelas diversas vozes que experimentaram a participação nesta prática. As narrativas utilizadas para esboçar esse processo surgiram a partir de relatos, imagens, sensações, pensamentos, sentidos e perceções suscitadas ao longo do trabalho/ação e que, após a prática, compõem cada “corpo-memória” (GROTOWSKI; FERRACINI, 2013). São histórias, cenas, imagens, sensações, flashes, que, quando retomados, atualizam forças na memória-corpo ou descrevem memórias-experiências.

 

 

PROCESSO

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